segunda-feira, 20 de junho de 2016

Agradecer por Obrigação

              Desde cedo os filhos são educados pelos pais: "Quando te fizerem um favor agradeça, diga obrigado". E tão logo o cumprimento obrigado se torna um sinal de educação e gentileza. O que por muito se torna estranho é que a palavra obrigado nada mais é do que o particípio do verbo obrigar e quando se para para refletir profundamente sobre isto se reforça a ideia de que agradecer a um favor deve ser visto sempre como uma obrigação e a frase dos pais ao educar seus filhos passa a significar: Se te fizerem um favor você tem a obrigação de correspondê-lo agradecendo.
             Dizer obrigado a alguém corresponde a uma obrigação moral que remete a uma dívida de favor, desse modo, obrigado serve para indicar alguém está em dívida a outro por um favor que lhe foi prestado, assim da mesma maneira que a pessoa foi ajudada ela também deve se sentir no favor de retribuir. Isto também serve para responder ao porquê da flexão do vocábulo em gênero e número. Uma mulher ao agradecer irá dizer: "Estou obrigada a retribuir o seu favor", enquanto que a um homem seria: "Sinto-me obrigado em retribuir o seu favor". O mesmo efeito ocorre quando o agradecimento parte da vontade de mais de uma pessoa.
             No entanto, quando refletimos profundamente a situação, agradecendo com o termo obrigado, vemos que o ato de agradecer não passa de uma simples obrigação, algo que desde criança se aprende como necessário para se mostrar educado e nada mais, assim se poderia dizer: "Agradecemos por que temos o dever de agradecer". Muito possivelmente a ideia de obrigação poderia nos levar a ideia de troca de favores, pois a pessoa se coloca na posição de devedor de uma dívida de favor. Essa condição ainda pode ser agravada pela leitura pejorativa que muito comumente é feita em nossa sociedade brasileira da expressão troca de favores, sabendo que ela por vezes é usada para o alcance de vantagens por meio de favores; "Te ajudo nisto se me favorecer naquilo". Situação essa que pode ser agravada quando a troca de favores resulta em vantagens ilícitas e maldosas.
             Agradecer é sempre um bom ato e logicamente recomendado e, embora a palavra que usamos para isso soe com um tom de obrigação e não prazer, não há mal algum em continuar usando o bom e velho obrigado, lógico que sempre respeitando a norma do português (em gênero e número). Além do obrigado, outro agradecimento pode ser o grato, lógico que bem menos lembrado, termo este que lembra a gratidão por um favor recebido. E também, por que não o agradecido, embora raríssimo, lembra a satisfação, contentamento por um favor (graça) recebido, afinal, nem sempre as pessoas que fazem favores estão preocupados em serem retribuídas pelo dever de um favor, mas simplesmente no bem que um simples gesto ou ação sua pode contribuir para o bem daquele ao qual prestou seu favor, como alguém que salva a vida do outro cujo interesse não esteja em retribuições, mas sim no bem-estar da pessoa que ajudou.
             Em resumo, agradecendo ou não e como fazendo isso, o importante é fazer o que significa a palavra favor, que nada mais é que apoiar, dar suporte a ajuda a quem precisa dentro das possibilidades e limitações.
             
                                                 
                                          Imagem disponível em www.pequenoguru.com.br