
disponível em culturamix.com
Como sempre, estórias infantis costumam trazem vilões e heróis, fazem com que a criança crie os personagens bonzinhos ao modo que a literatura infantil procura produzir. Na história da chapeuzinho vermelho se for perguntar a uma criança quem são os personagens bonzinhos e os maus, não seria nada surpreendente se ela respondesse pela chapeuzinho, a vovó e a mãe pelos bonzinhos e o lobo mau pelo malvado. Inclusive, ela conseguiria explicar toda a historia na versão que para ela foi contada.
O mais interessante de estórias como essa é que podemos ver nela o perfil de certas famílias espalhadas por esse mundo a fora. Primeiramente vemos uma filha que deixa a mãe, já idosa, em um lar afastado, isolado, no meio de uma floresta sem ter alguém por perto para socorrê-la. A mãe dela, já idosa, é vista na cena, acomodada a uma cama sem companhia nenhuma. A filha mesmo prefere não visitar a mãe, envia logo a neta. É assim, que podemos notar a preocupação que alguns filhos tem de seus pais quando eles envelhecem e chegam a fase idosa, ao invés de mantê-los próximos, amparando-os em suas necessidades, acham melhor despachá-los em um asilo ou deixá-los em uma casa sozinhos e se virando com tudo, e nem sequer uma visita a eles fazem, se precisar deixam que outros façam, que outros ajudem. Aí uma pessoa quando idosa acaba sendo ajudado por terceiros no lugar dos próprios filhos. Outro ponto a analisar é que a mãe manda a filha visitar a avó sozinha, passando por um lugar distante e sabendo que era perigoso. É assim que podemos ver algumas mães cuidando de seus filhos, ao invés de ficarem próximos dele, sempre cuidando para que eles não se percam na vida, que tenham uma boa educação, evitem lugares perigosos, lugares que os leve a dor, ao sofrimento, a desilusão; escolhem por deixá-los andar sozinhos, fazerem o que quiserem, deixar de apoiá-los em suas escolhas, deixar de vigiá-los e protegê-los em seus caminhos.
Outro fato que podemos analisar é que a chapeuzinho vermelho quando chega na casa da vovó e a encontra na cama não consegue reconhecer a própria avó, por isso pergunta: Vovó, que nariz tão grande você tem? Que olhos tão grandes você tem? Que boca enorme você tem? Todo isso leva a crer que a chapeuzinho não reconhece a própria avó e que há tempos não a visita, ou nunca foi apresentada a ela. Nessa parte, a mãe nem sequer deve ter explicado a ela como era a avó, ou mesmo falado para a menina de sua avó. E hoje, quantas crianças não conhecem seus avôs simplesmente porque os pais não tem preocupação nenhuma de mostrá-los a seus filhos? Quantos são os filhos, que a exemplo da estória, esquecem de seus pais e deixam eles por aí como se não existissem?
Na estória conta que chapeuzinho vermelho levava doces para a vovozinha, mas a mãe nem sequer tem a preocupação de saber a mãe pode ou não comer doces, as vezes pode até ser que ela seja diabética e a mãe não saiba já que não participa da vida da avó. Contasse também que o lobo mau é o vilão da estória, mas acontece que ali ele é o único que segue seu instinto, é a sua natureza, ele faz aquilo para se alimentar e se manter vivo. Se a família da chapeuzinho vermelho estivesse toda morando na mesma casa, a mãe cuidando melhor da avó, chapeuzinho vermelho não precisava atravessar um caminho perigoso e lobo nenhum ia incomodar. Por isso, ao invés de se ver a estória do jeito que a literatura costuma contar, melhor seria encará-la como uma fábula e tomar-se dela um lição para corrigir a postura da família e procurar viver bem com ela, longe de perigos, desuniões, isolamentos e problemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário