Dizemos que o Estado é laico, o que significa uma autonomia entre Estado e Igreja, seja a religião que for, no entanto, atualmente vem sendo corrente aqueles que preguem uma distinção completa e até mesmo uma hostilidade contra todo e qualquer sentimento que religue a um sentimento religioso, como se tudo que fosse de competência do Estado necessitasse uma ausência completa de tudo que envolve uma moral religiosa. Mas será que de fato do Estado ser laico é condizente com isso? E por que isso acontece?
A História mostra claramente que em tempos passados, principalmente na Idade Média a influência da Igreja sobre o Estado era muito marcante, de modo que o que valia para a Igreja era também o que valia ao Estado. Isso certamente, com o avançar do tempo, trouxe descontentamento a muitos, e com as revoluções e acontecimentos históricos sociais foi desenvolvida a separação do Estado e da Igreja, de modo que cada qual possa atuar de modo independente um do outro. Quando o Estado não interfere na prática religiosa ele permite que várias confissões religiosas sejam realizadas de modo a respeitar suas culturas, ritos e tradições, além é claro, de respeitar aqueles que se colocam como ateístas.
O que está muito em voga ultimamente não é a laicidade, mas sim o laicismo. Por vezes, correntes de pensadores e intelectuais, tendem a tornar laicidade e laicismo como sinônimos, de modo a justificar o Estado não como laico, mas sim como laicista. Deste modo, as pessoas que detém responsabilidade por qualquer tema voltado ao Estado deveriam deixar seu sentimento religioso de lado, e por vezes até mesmo ser combatido, pois uma decisão defendida por um grupo de pensadores livres poderia enfrentar uma dificuldade muito grande de adesão quando as partes envolvidas na decisão levam em conta a sua moral religiosa na decisão.
Embora seja visto o Estado como algo laico, é perceptível o quão a cultura moldada em padrões religiosos existe, pois mesmo a moral e a ética são mais fortes dentro de uma perspectiva religiosa. Se a intenção do laicismo é destruir esta fundamentação de moral e ética baseada em preceitos religiosos muito rígidos e por ora conservadores, o melhor é certamente ensinar as pessoas que o Estado deve ser construído dentro de uma perspectiva que abandone esses valores, pois assim as mudanças e revoluções culturais serão bem mais fáceis de serem implantadas. Não é a toa que Karl Marx já dizia que a religião é o ópio do povo, pois para implantar sua ideologia o melhor seria destruir os valores morais religiosos e assim as pessoas seriam mais fáceis de se tornarem adeptas de seu pensamento.
Enfim, laicidade e laicismo são duas definições distintas, na qual a laicidade prevê que o funcionamento do Estado e da religião independem um do outro, mas em momento algum se põem como antagonistas e todas as formas de crenças são respeitadas, inclusive o ateísmo, muito diferente do laicismo, na qual o principal objetivo é combater e perseguir as confissões religiosas, desmoralizando-as e desqualificando-as. Pensamentos fundamentalistas não são características próprias de dogmas e doutrinas religiosas, mas também ideológicas, no sentido de reduzir toda uma verdade ao seu meu mero consentimento, sem oferecer espaço a reflexão de outros pontos de vista, ainda que esses não sejam atraentes.
Se o Estado é democrático é porque o poder emana do povo, e o povo escolhe seus representantes tendo em vista a posição deles. Se eles não agradarem então que não sejam eleitos. Assim, os governantes são o reflexo daquilo que o povo quer. Não cabe a nenhuma confissão religiosa a interferência nesse processo, porém também não cabe tirar a religiosidade daqueles que são eleitos democraticamente pelo povo.