É tão comum atualmente vermos o ser humano tão tecnológico, tão avançado, tão prestativo aos avanços científicos, tão urbanizado, tanto que por vezes o enxergamos como um ser destinado ao progresso que o torna distante daquilo que lembra a natureza de demais seres vivos. Nos últimos tempos, após dominar todos os cantos do planeta, estar em todos os continentes e até mesmo nos polos e na órbita terrestre, seu anseio é "navegar" em outros "mundos", a Lua, Marte e além. O questionamento que fica é se será que o ser humano artificializa sua existência em vista do progresso, ou no fundo há nele uma tendência que o faz, mesmo que instintivamente, retornar ao natural? Ou ainda se existe um processo natural em sua existência, aquilo que chamaríamos da natureza humana?
O célebre filósofo inglês Thomas Hobbes dizia o homem ser o lobo do homem, de modo a descrever a natureza do homem como perversa, uma natureza egoísta. Paulo em sua carta aos romanos afirmava: "não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero". Assim, tanto Hobbes quanto Paulo apontam para uma natureza má no ser humano, tentada ao pecado e a perversão. É possível que a melhor explicação para isso seja sua própria sobrevivência e a sobrevivência de suas próximas gerações.
Porém, no fundo o ser humano tende a se compadecer de seus semelhantes, criar consciência e adotar atitudes que amenizam o sofrimento alheio. Os melhores exemplos disso são a solidariedade e a capacidade dele ser caridoso com o seu próximo, principalmente em momentos muito emergentes, como em situações de grandes desastres naturais ou após a reconstrução de vidas que superaram momentos emblemáticos de grandes conflitos ou mesmo uma guerra. A capacidade que o ser humano tem de se sensibilizar com as dificuldades com as dores do outro serve como um amenização de uma natureza tendenciosa a maldade humana.
Rousseau dizia que o homem tinha um estado de natureza, uma vida essencialmente animal, moldada pelo ambiente. No entanto, diferente dos demais animais, o homem aprendeu a viver em civilização, com normas regidas por uma sociedade. Muitas das normas fogem a natureza humana e tendem a artificializar a conduta humana, por eles não vivem exatamente como a sua natureza o permite viver, mas vivem de acordo com uma conduta que é considerada a melhor dentro de uma sociedade, de uma realidade e um contexto. Tudo que ele cria é uma recriação da natureza, um aproveitar-se dela e, por vezes, modificar a sua essência, acelerando processos ou copiando o que há na natureza, usando ferramentas disponíveis por sua ciência para aprimorar as próprias experiências da vida humana. Porém, mexer com a natureza humana muitas vezes é uma tarefa delicada porque implica mexer com a realidade de cada um.
É natural que em um ecossistema tudo tende a entrar em equilíbrio, de modo que os desequilíbrios tendem a se ajustar com o passar do tempo e os recursos naturais e seres vivos dele cumprem funções naturais que se ajustam e causam aquilo que compreendemos por equilíbrio ecológico. O ser humano funciona da mesma forma, ele possui uma essência natural, é comum ele querer ser livre, seguir sua vida e não se satisfazer tanto em seguir tantas regras. Ele é naturalmente um ser sociável e seu organismo possuí necessidades fisiológicas e sanitárias naturais. Deste modo, simplesmente impor um isolamento completo dele, ainda que seja para o seu bem, e esperar que nada de mau irá afetá-lo é certamente um pensamento demagogo, pois atua contra a própria condição natural humana. Da mesma forma, não se pode desprezar que o próprio organismo humano possui proteções naturais contra diversas intempéries, poluentes, contaminantes e agentes patológicos do meio em que vive, embora a existência de medicamentos e vacinas manipuladas pelo homem contribua para melhorar a sua capacidade natural de sobrevivência.
Assim, entender as inquietudes humanas implica em não menosprezar a sua própria natureza, afinal, é sempre tendencioso que o ser humano retorne ao contato com o meio ambiente e experimente mais daquilo que é natural, como o ar puro, a brisa suave, o contato com a vegetação, os lagos, rios, mares e areia da praia, e deixe de lado, nem que seja por um instante, aquilo que é fruto de sua própria manipulação.