quinta-feira, 27 de abril de 2023

A Saúde e o Preconceito

Houve um tempo em que a magreza era sinônimo de beleza, em que quanto mais magra a pessoa era mais bela ela era vista. Em nome disso muitas mulheres e meninas buscavam incessantemente o corpo ideal, um corpo delgado, mais um corpo em que muitas nunca se contentavam. Toda a magreza que conseguiam não era o suficiente e sempre se achavam "gordas", fora dos padrões de beleza da época. Não digo que problemas com anorexia e bulimia deixaram de existir, todavia é bem verdade que já não se fala nesses assuntos com tanta ênfase como se falava em tempos passados. 

Hoje o que se busca é a chamada "aceitação", tudo deve ser aceito e respeitado. Ai de quem ousar falar qualquer coisa sobre os padrões de corpos. Tão logo será taxado de preconceituoso. Tudo bem que devemos respeitar as pessoas e seus fenótipos, até mesmo porque não é nada educado caçoar e ofender as pessoas pela forma que se apresentam os seus corpos. Entretanto não se pode ser visto como bom conselho não alertar as pessoas quando se percebe que algo não está em conformidade com uma vida saudável e que pode trazer sérios riscos. Alertas e conselhos jamais devem ser tratados como intimidações, preconceitos ou ofensas.

É necessário que as pessoas se conscientizem sobre a sua própria saúde e que enxerguem claramente que romantizar problemas como a obesidade, que inclusive é vista como doença pela Organização Mundial da Saúde, não ajudará em nada a confortar as pessoas que passam por esse problema. É claro que a subnutrição, a anemia, a bulimia e a anorexia também não devem ser romantizadas. Contudo se faz necessário a conformidade que tratam-se de problemas sérios de saúde que afetam a qualidade de vida do ser humano. Pessoas que sofrem com o sobrepeso e a obesidade tendem a correr maior risco com problemas cardiorrespiratórios, doenças cardíacas, pressão alta e também tendem a se sentir cansadas com maior facilidade, entre outros problemas podem vir a enfrentar ou ficarem mais susceptíveis, tais como diabetes e colesterol.

É evidente que as pessoas precisam ser respeitadas e serem tratadas educadamente. Porém, não se pode deixar de modo algum o ímpeto por motivá-las à prática regular de exercícios físicos, ao equilíbrio nas refeições, a entender se existe nelas alguma ansiedade ou angustia que provoca nelas um descontrole na hora das refeições ou mesmo algum distúrbio ou problema de saúde associado. Para isso, a melhor forma de respeitar essas pessoas é motivá-las ao correto acompanhamento médico ao invés de romantizar problemas sérios de saúde. Respeitar a pessoa como ela é não significa se conformar com o estado em que ela está, mas sim entender a dificuldade pela qual ela passa e corretamente instruí-la para que faça as melhoras escolhas para que assim ela possa ter melhor qualidade de vida.

Aceitar alguém como ela é não impede em aconselhá-la quando se nota que é possível melhorar a qualidade de vida daquela pessoa e procurar sempre prezar pela sua saúde. Acompanhamento médico é essencial e os profissionais não devem ser censurados em suas prescrições pelo chamado "politicamente correto". Portanto, vamos nos respeitar da forma que somos, contudo não esqueçamos que o mais importante é prezar pela saúde e pela qualidade de vida.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Livros para a Vida Inteira

 A quem diga que o meio digital irá acabar com os livros impressos, uma vez que parece bem mais práticos os livros eletrônicos, os arquivos na nuvem, os documentos em pdf, os livros que podem ser acessados em qualquer dispositivo eletrônico em qualquer lugar do mundo, seja no celular, seja em tablets ou computadores. Tudo parece tão simples, sem necessidade de pilhas de papeis impressos, ocupando espaços em prateleiras ou fazendo volumes para serem carregados de um canto a outro. Há ainda quem apele à consciência ecológica, a manutenção de árvores em pé, a redução de papel e celulose e demais materiais que por ventura venham a ser descartados em lixeiras e ocupando espaço em aterros sanitários. Mas no fundo será que seria conveniente abandonar definitivamente os livros impressos?

Possivelmente o primeiro argumento para quem quiser se opor a extinção dos livros impressos seja a questão da empregabilidade, pois livros digitais poderiam facilmente aumentar o contingente de desempregados, por afetar tarefas em gráficas e editoras. Livros impressos ainda impactam trabalhos indiretos em outras áreas, como bancas de revistas, livrarias, lojas e até mesmo serviços de transporte. No entanto, isso por si só não seria o maior problema. Livros em si não deixam de ser documentos, são como arquivos, e os meios virtuais não são completamente seguros. Muitos foram os episódios de livros e bibliotecas ao longo da história, como se pode recordar da grande biblioteca de Alexandria e do episódio de queima de livros por parte dos nazistas tempos antes da Segunda Guerra Mundial. Arquivos quando estão somente em meios virtuais são susceptíveis a perdas e danos. É comum que alunos precavidos gerem inúmeras cópias de seus trabalhos, arquivos e documentos e os guarde em inúmeros dispositivos (computadores, discos rígidos, incluindo pendrives e CDs; nuvem e mais antigamente em disquetes, quiçá até em e-mails como subterfúgio de proteção a manutenção do documento). Entretanto, se o arquivo for perdido e esquecido de ser salvo em outro dispositivo ou ainda o documento ficar a disposição de um ente qualquer que possa ter acesso a todos os meios virtuais em que ele esteja disponível, a susceptibilidade de perda do documento, se assim for da vontade desse ente, se torna algo bem possível e de recuperação difícil de ser alcançado.

Mas para além disso, ainda há algumas comodidades dos livros impressos. Há quem não suporte passar horas e horas a ler livros ou mesmo documentos longos (como artigos por exemplo) por meio de uma tela de computador ou celular, ficando a todo instante submetido àquela luz irradiante sobre seu rosto, ou que se sinta cansado com leituras longos por meio de dispositivos eletrônicos, mesmo que eles estejam em modo de tela escura. Para alguns, a tela escura pode despertar sonolência, enquanto que para outros telas claras despertem cansaço na visão. Livros impressos permitem marcações com maior facilidade, uso de marcadores se tornam mais acessíveis, páginas podem ser dobradas e desdobradas, pode-se usar as chamadas "orelhas de burro", as leituras podem ser em qualquer lugar sem a necessidade de um carregador e uma tomada de energia elétrica. Livros impressos podem ser lidos até mesmo a beira-mar sem o risco da maresia. Com uma caneta marca texto, trecho podem ser identificados, embora seja possível marcações de destaque de texto em arquivos de pdf, a destreza da mão livre só é possível em materiais impressos. Livros impressos não correm riscos de falta de energia elétrica, não sofrem com raios e sobrecargas de redes elétricas, não correm riscos de haquers e adulteração de conteúdo em meios virtuais, sobretudo distantes e são acessíveis em qualquer lugar. Livros impressos espalhados pelo mundo não podem ser eliminados com apenas um clique e ainda podem guardar lugares chamados de "relíquias" em bibliotecas que guardam arquivos acessíveis e disponíveis a todos visitantes passe o tempo que passar, convidando o leitor a um passeio, em um ambiente tranquilo, de concentração e dedicação a uma profunda imersão no conteúdo do livro, do conhecimento em livros técnicos e científicos ou de admiração, inspiração e prazer pelos livros literários.

Celulares são versáteis, a pessoa o carrega para todo lugar que vai, e está acessível a muitos, dificilmente há quem não o tenha. Mas a verdade é que ainda são muitas as pessoas no mundo sem acesso a internet e sem tais dispositivos. Celulares são mais caros que livros impressos e em diversos cantos há as bibliotecas públicas acessíveis a toda a população, inclusive aos mais carentes. Celulares são alvos preferenciais de furtos, roubos e assaltos. É sempre necessário tomar muito cuidado, principalmente quanto mais caros forem. Livros impressos dificilmente costumam ser alvos de roubos. Em se tratando de questões ecológicas, livros não carregam em si lixo eletrônico ou metais pesados que demandem cuidados especiais na hora de descarte e tampouco livros foram feitos para serem descartados. Pessoas não costumam comprar livros para tão logo substituírem por aqueles que são mais avançados e atualizados, embora existam exceções. Papéis são reciclados e as páginas amareladas contam a história dos tempos, não só no conteúdo escrito, mas nas formas, aspectos físicos, como texturas e colorações, que remontam hábitos e costumes de épocas, por vezes remotas e que recriam tanto um imaginário histórico quando uma realidade há algum tempo vivida. Embora livros ocupem espaço, eles não ocupam memória, a não ser a da história.

Dispositivos eletrônicos trazem comodidade, versatilidade e oportunidade de reunir tudo em dispositivos por ora minúsculos que ocupam espaços exíguos, mas onde queira estar, por mais isolado que seja o lugar, sempre haverá como na presença de um livro estar, para entreter-se e aprender pela vida inteira.

sábado, 5 de março de 2022

O Ser "in natura"

É tão comum atualmente vermos o ser humano tão tecnológico, tão avançado, tão prestativo aos avanços científicos, tão urbanizado, tanto que por vezes o enxergamos como um ser destinado ao progresso que o torna distante daquilo que lembra a natureza de demais seres vivos. Nos últimos tempos, após dominar todos os cantos do planeta, estar em todos os continentes e até mesmo nos polos e na órbita terrestre, seu anseio é "navegar" em outros "mundos", a Lua, Marte e além. O questionamento que fica é se será que o ser humano artificializa sua existência em vista do progresso, ou no fundo há nele uma tendência que o faz, mesmo que instintivamente, retornar ao natural? Ou ainda se existe um processo natural em sua existência, aquilo que chamaríamos da natureza humana?

O célebre filósofo inglês Thomas Hobbes dizia o homem ser o lobo do homem, de modo a descrever a natureza do homem como perversa, uma natureza egoísta. Paulo em sua carta aos romanos afirmava: "não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero". Assim, tanto Hobbes quanto Paulo apontam para uma natureza má no ser humano, tentada ao pecado e a perversão. É possível que a melhor explicação para isso seja sua própria sobrevivência e a sobrevivência de suas próximas gerações.

Porém, no fundo o ser humano tende a se compadecer de seus semelhantes, criar consciência e adotar atitudes que amenizam o sofrimento alheio. Os melhores exemplos disso são a solidariedade e a capacidade dele ser caridoso com o seu próximo, principalmente em momentos muito emergentes, como em situações de grandes desastres naturais ou após a reconstrução de vidas que superaram momentos emblemáticos de grandes conflitos ou mesmo uma guerra. A capacidade que o ser humano tem de se sensibilizar com as dificuldades com as dores do outro serve como um amenização de uma natureza tendenciosa a maldade humana.

Rousseau dizia que o homem tinha um estado de natureza, uma vida essencialmente animal, moldada pelo ambiente. No entanto, diferente dos demais animais, o homem aprendeu a viver em civilização, com normas regidas por uma sociedade. Muitas das normas fogem a natureza humana e tendem a artificializar a conduta humana, por eles não vivem exatamente como a sua natureza o permite viver, mas vivem de acordo com uma conduta que é considerada a melhor dentro de uma sociedade, de uma realidade e um contexto. Tudo que ele cria é uma recriação da natureza, um aproveitar-se dela e, por vezes, modificar a sua essência, acelerando processos ou copiando o que há na natureza, usando ferramentas disponíveis por sua ciência para aprimorar as próprias experiências da vida humana. Porém, mexer com a natureza humana muitas vezes é uma tarefa delicada porque implica mexer com a realidade de cada um. 

É natural que em um ecossistema tudo tende a entrar em equilíbrio, de modo que os desequilíbrios tendem a se ajustar com o passar do tempo e os recursos naturais e seres vivos dele cumprem funções naturais que se ajustam e causam aquilo que compreendemos por equilíbrio ecológico. O ser humano funciona da mesma forma, ele possui uma essência natural, é comum ele querer ser livre, seguir sua vida e não se satisfazer tanto em seguir tantas regras. Ele é naturalmente um ser sociável e seu organismo possuí necessidades fisiológicas e sanitárias naturais. Deste modo, simplesmente impor um isolamento completo dele, ainda que seja para o seu bem, e esperar que nada de mau irá afetá-lo é certamente um pensamento demagogo, pois atua contra a própria condição natural humana. Da mesma forma, não se pode desprezar que o próprio organismo humano possui proteções naturais contra diversas intempéries, poluentes, contaminantes e agentes patológicos do meio em que vive, embora a existência de medicamentos e vacinas manipuladas pelo homem contribua para melhorar a sua capacidade natural de sobrevivência.

Assim, entender as inquietudes humanas implica em não menosprezar a sua própria natureza, afinal, é sempre tendencioso que o ser humano retorne ao contato com o meio ambiente e experimente mais daquilo que é natural, como o ar puro, a brisa suave, o contato com a vegetação, os lagos, rios, mares e areia da praia, e deixe de lado, nem que seja por um instante, aquilo que é fruto de sua própria manipulação.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Ser Humano, Um Ser Insaciável

              Há quem diga que o ser humano é frágil, é fraco, que muito erra, que é limitado. Há quem diga que ele é mau por natureza, ou que sua essência seja boa, ou ainda que sua essência seja boa embora seja tentado a sua fraqueza e seja estragado pelo que há de mau. No fundo, o ser humano é uma ser inconstante.

              De fato o ser humano é um ser incompleto, um ser que nunca se satisfaz. Um ser que quando satisfeito se acomoda, mas que no fundo isso o incomoda, pois vê sua vida dinâmica. Se na vida tudo passa e tudo se transforma, por que ficar sempre preso ao mesmo lugar, às mesmas vontades ou aos mesmos modos de vida?

              No fundo, o ser humano está sempre se inventando e reinventando e seu espírito aventureiro sempre o coloca na posição de explorador. Quando o ser humano atingiu a civilização no mundo ocidental, em especial na Europa, isso por si no início bastava e tão logo não era mais o suficiente. Necessário era desbravar e conquistar novos territórios do continente e mesmo os conquistando isso já não satisfazia o anseio humano. Sua insatisfação o levou a navegar novos mares e alcançar o Novo Mundo. E quando dominou o Novo Mundo em seguida não mais o satisfazia. Era necessário desbravar o Novíssimo Mundo. Mas o Novíssimo Mundo passou a ser ultrapassado, agora o encantar está fora do planeta.

              Em sua ânsia, o ser humano alcançou a Lua, que já não mais o basta. Vieram satélites, um mundo novo a ser descoberto. Marte é a nova parada, o novo lar da colonização humana. Satélites já alcançaram os limites do Sistema Solar e certamente irão além. E além irá a humanidade.

              O que isso ajuda é entender a inconsistência humana. Cada ser humano é algo em particular, algo que o distingue de todos os demais seres humanos. Para adotar uma mesma regra e um mesmo ponto de vista para todos seguirem é algo complexo, tortuoso. Nem todos os seres humanos gostam de se submeter a medidas que limitem sua liberdade, ou sua capacidade de inovar, ou seguir regras que o limite, que o distancie de seus planos, seus objetivos, seus entretenimentos, seus gostos. Limitar um ser humano a um espaço não é uma tarefa simples, alguns se sujeitam, outros não. Alguns entendem, outros concordam, outros cumprem não concordando enquanto muitos descumprem mesmo concordando. 

              Mas no fundo seres humanos são movidos por seus medos, temores esses que são diversos e que podem muitas vezes estar em pontos distintos. Alguns podem temer a fome, enquanto outros o desemprego, ou pela própria vida ou a saúde. Alguns temem pelos outros e outros por si mesmos. Porém, todo anseio é de difícil controle e se aguda o descontrole quando o anseio se imiscui aos medos.

              O ser humano não é sempre conivente ao convencionado correto. Ele se desvirtua, se entrega a seus prazeres mesmo ciente de seus riscos. Mas a essência humana se respalda em riscos, riscos por ora inconsequentes, riscos que quando transgredidos podem incutir em problemas ou em soluções não esperadas. O ser humano sente, necessita, arrisca-se, explora, acomoda-se ou não se satisfaz. Enfim, o ser humano é sempre um ser incompleto, que por mais que vise a sua completude nunca a alcança e por vezes não admite que alguém interfira ou limite sua busca insaciável e inatingível de sua satisfação sempre incompleta.           

terça-feira, 2 de março de 2021

6 ou 9

Opiniões dissonantes: defender fortemente as próprias convicções ou ser crítico a elas? Criticar os próprios argumentos e arte da autocrítica não é algo simples, ao menos para muitas pessoas. O grande problema atual das críticas são os ataques que são frequentemente feitos àqueles que expressão opiniões sobre o assunto e não ao assunto em si, algo que será sensato e esperado. É muito comum ver em redes sociais e mesmo em embates pessoais, frente a frente sobre um assunto, pessoas se exaltarem com seus antagônicos de opiniões e deixarem de lado o assunto para partir direto para os discursos de ataque à pessoa, usando termos ofensivos e por vezes até de baixo calão. Achismos, induções, falsas acusações, más interpretações e boatos se tornam altamente comuns em um ambiente tóxico ao debate e ao confronto de ideias. Posições fanáticas, que não se abrem a críticas e modos distintos de enxergar resoluções ao mesmo problema, alienações da conduta e forma de pensar, a manipular de informações e notícias, a criação de narrativas com finalidade indutiva de formar opiniões, a forma ortodoxa de enxergar soluções somente em uma linha de ação, a base muito bem pautada no senso comum e a omissão de casos adversos e que repercute negativamente para o nosso ponto de vista sobre qualquer assunto que seja são muitos impeditivos que nos proíbe que fazer reflexões e autocríticas.

A saída do grande enigma de saber se é 6 ou 9 pode se no diálogo, nas reuniões, na capacidade de ouvir, na capacidade de "colocar todas as cartas sobre a mesa". Grandes desafios da ciência e da engenharia são resolvidos na base de discussões entre profissionais e especialistas, cada qual defendendo seus argumentos com todos os atributos que lhes cabe. Certamente, ao fim de tudo, quando se reina o bom senso, as análises de todos os pormenores, riscos e oportunidades, visa-se acatar a melhor proposta ou a que seja menos danosa. Mas se nenhum deles se abrir as propostas alheias, não haverá um senso comum, nada de produtivo será acatado e os problemas continuarão sem solução. Medidas, opiniões, argumentos e arguições devem ser acompanhadas à medida que são implantadas. Cabe as pessoas observarem a forma de pensam sobre um assunto específico e estudar o como ele realiza, como se encaixa no funcionamento das coisas, compreender o porquê o outro pensa diferente, compreender experiências diversas, olhar para uma posição crítica a sua e procurar sempre o equilíbrio e não a arrogância. Reconhecer nossas falhas e as formas diferentes de pensar diferentes soluções, monitorar cada uma delas e verificar se elas satisfazem ou não. Não adianta persistir em uma mesma visão ou solução de um problema se ele não entrega aquilo que se quer. Como Einstein dizia: "Loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual". Por oras é necessário refletir e olhar profundamente sobre nossas convicções e ver se os resultados que dela esperamos fazem sentido mesmo ou apenas demonstram nossa própria intransigência de dialogar com o diferente.

Pensar em como o outro pensa e tentar entender o porquê dele enxergar 6 onde enxergamos 9 ou de enxergar 9 onde enxergamos 6 deveria ser visto como algo valioso, quiçá ambos estejam certo dentro de uma perspectiva diferente de ver o mesmo problema. O consenso nesse caso poderia ser abrandado a uma postura intermediária, que amenize problemas e otimize soluções, mas se não há cooperação de todos, então o diálogo se torna desnecessário e todas as críticas são meramente destrutivas, criando mais caos, incertezas, intrigas, confusões e divisões. Enfim, para haver consenso é necessário deixarmos de lado pressupostos, nos abrirmos ao diálogo e entender o contraditório, nos atendo sendo ao argumento contraditório e não ao argumentador do contraditório. 

sábado, 26 de dezembro de 2020

Entre a tecnologia e a "dor"

Desastres naturais ou provocados pelo são constantes, de tempos em tempos vemos notícias ou estudamos sobre acontecimentos trágicos, como guerras, terremotos, enchentes, enxurradas, doenças, grandes incêndios, explosões, desabamentos de construções, represas e terras, acidentes com furacões, erupções vulcânicas e os mais diversos acidentes automobilísticos, aéreos e navais. Além dos mencionados, muitas outras situações trágicas podem ocorrer, mas o que mais surpreende é que situações assim servem para despertar na humanidade uma certa "revolução", ou seja, a necessidade de resolver problemas emergentes contribui para impulsionar a adaptação e "evolução" do próprio ser humano.

Há um consenso que na pré-história o ser humano era nômade, vivia basicamente da caça, pesca e coleta de alimentos vegetais (frutos, raízes e folhas). A partir do momento que ele aprendeu a cultivar a terra, houve uma primeira revolução do seu modo de vida, permitindo se fixar sobre uma área de terra. Quando ele aprendeu a domesticar animais houve uma nova evolução, permitindo substituir a caça pelo controle da criação de animais, reforçando um estilo mais sedentário de vida. Os primeiros seres humanos não costumavam fazer reserva de alimentos, eles basicamente cultivavam e preparavam a quantidade para consumo imediato, no entanto, em períodos de seca ou atingidos por outros desastres naturais representava uma ameaça a essas comunidade de seres humanos pela dificuldade em se obter alimentos. A partir daí surge a necessidade de reservar alimentos para poder suprir momentos mais difíceis para a agricultura, pesca ou mesmo criação de animais.

Outra situação que pode obrigar os seres humanos a mudar seu estilo de vida com a relação a mudanças ambientais e acontecimentos inesperados se relaciona com as vestimentas. Em tempos mais frios e com temperaturas muito baixas, a ponto inclusive de nevar, contribui por criar a necessidade no homem de manter uma temperatura confortável em seu corpo e evitar sofrer de uma possível hipotermia que o pode levar a morte. Assim, em tempos mais frios o ser humano precisou desenvolver vestimentas mais grossas e pesadas, muitas feitas com peles e couros de animais. Em tempos mais quentes o ser humano teve que desenvolver roupas mais leves e aprendeu a desenvolvê-las inicialmente a partir de fibras vegetais, tais como o linho e o algodão. Atualmente muitas das roupas são feitas por meio de materiais sintéticos, como a poliamida.

Guerras também contribuem e muito para a evolução tecnológica. Com o desenvolvimento da indústria bélica para alcançar uma superioridade tecnológica em relação ao inimigo para vencer mais facilmente uma guerras, não somente tecnologias ligadas a armamentos evoluem, mas também o desenvolvimento de novos materiais, como exemplo da grande quantidade de materiais poliméricos sintéticos que foram desenvolvidas na Segunda Guerra Mundial ou as tecnologias ligadas a meios de transporte, como veículos terrestres, avanços na indústria naval e aeronáutica. O evento da Guerra Fria propiciou a aceleração da corrida espacial, com uma disputa contínua entre soviéticos e norte-americanos para demonstrar quem detinha maior poder na indústria aeroespacial, propiciando assim acontecimentos históricos como a colocada do primeiro ser humano no espaço (a cadelinha Laika pelos soviéticos em 1957), o primeiro homem a orbitar a Terra (o soviético Yuri Gagarin em 1961) e finalmente o primeiro homem a pisar a Lua (o norte-americano Neil Armstrong em 1969).

Grandes epidemias e pandemias também podem servir como gatilhos para o avanço tecnológico, por meio delas a indústria farmacêutica se desenvolve, novos medicamentos, soros, tratamentos e vacinas, inclusive usando novas tecnologias, encurtando prazos e acelerando estudos. Pesquisas são desenvolvidas e equipamentos modernos e novos são impulsionados pela necessidade de desenvolvimento. Com a pandemia atual já há cientistas e pesquisadores que traçam estratégias antevendo futuras pandemias e aprendendo com os erros e acertos a ver o que necessita ser desenvolvido e aprimorado e como fazer para se antever e preparar-se para o que virá. Assim, guerras fomentam o desenvolvimento de novas tecnologias empregadas em armamentos, mas que podem ser desviadas para outras finalidades mais pacíficas, como a energia nuclear e novos materiais; desastres naturais podem forçar o ser humano a aplicar novas formas de manipular o espaço em que vive, como construções de diques e barreiras de contenção ou ainda aprimorar as técnicas de manejo do solo para evitar erosões pluviais ou empobrecimento do solo e grandes enfermidades podem acelerar a medicina ao encontro de soluções mais efetivas para dificuldades emergentes.

sábado, 22 de agosto de 2020

Menos ou mais?

             Atualmente muito se lembra daquela frase "menos é mais", usada para justificar o uso menor de um recurso para obter melhores resultados: menos luz acessa, mais economia de energia; menos embalagens, mais preocupação ambiental; menos lavagem de calçadas e carros, mais economia de água, menos carros circulando nas vias, mais aumenta a qualidade de ar devido a emissão de menos gases poluentes; menos pessoas em um lugar, mais silêncio, etc. Parece que vivemos realmente em um mundo de exageros, em um mundo perdulário e que visa à redução de disso tudo. Economia é arte de administrar o escasso, aquilo que é necessário ser controlado para evitar a falta, o desperdício e o prejuízo. Contudo o "menos" demais pode acarretar a falta, que por fim pode não trazer bons resultados. Sabemos que comer além do necessário é danoso a saúde porque pode levar ao sobrepeso e à obesidade e, por conseguinte, às doenças e complicações decorrentes deles. Por outro lado, a falta da alimentação adequada também gera prejuízos à saúde, como desnutrição, anemia e outras doenças decorrentes da carência dos nutrientes necessários ao organismo. Assim também poderia ser ao projetar a embalagem para os produtos, uma vez que a falta de uma embalagem adequada e mínima o suficiente para manter o produto em condições seguras levaria a sua perda.
             Em diversas situações cotidianas nos deparamos com essas situações, faltas e excessos acarretam resultados que por ora não são benéficos. Aristóteles costuma dizer que a virtude do bem viver está no meio termo e nos extremos estão os vícios. A virtude assim seria a moderação, a ponderação e o equilíbrio. Quando há um desequilíbrio nas decisões da vida é comum ver o oposto como uma solução: para o que há de mais o menos é agradável, para o que há de menos é melhor pensar no mais. Dificilmente alguém vive uma vida em equilíbrio por completo, sempre estamos sujeitos aos vícios, sejam eles a falta, sejam eles os excessos. A susceptibilidade diante da qual se encontram os indivíduos os tornam vulneráveis aos seus vícios e faltas e, portanto, a defesa de medidas extremas. Quanto mais se caminha a um extremo, mais se distância de um ponto de equilíbrio e, assim, com maior nobreza poderá ser visto o "menos" ou o "mais", porque o menos torna o indivíduo mais próximo da melhor decisão da mesma forma que o mais o torna menos distante dela. Um exemplo poderia ser a política, pois pode-se escolher entre direita e esquerda e quanto mais se defende uma posição frente a outra maior será a chance de se perder um referencial de equilíbrio e refletir se algo do oposto pode ou não ser aproveitado, avaliado ou mesmo reformulado, ou ainda, entregar-se a um reducionismo de mundo que se encaminha a um fanatismo ideológico.
             A moderação e o equilíbrio pode conduzir o indivíduo a racionalização, algo que pode ser aplicado de modo prático. Em uma linha de produção se deve ter em mente que um produto deve sempre satisfazer todas as expectativas da qualidade, em especial funcionalidade, segurança e durabilidade, por isso certas economias devem ser muito bem pensadas. Contudo uma empresa não pensa somente na qualidade de seus produtos, mais também no custo para fabricá-lo e no lucro obtido sobre sua venda, o que para ela os excessos para adquirir a boa qualidade não são bem vindos, pois geram desperdícios e perdem. Conciliar qualidade e custos gera lucro, gera bons resultados. Na vida, é comum decisões sempre gerarem consequências más e a redução destas más consequências está na racionalização das decisões. Racionalizar uma decisão e agir com moderação por vezes não é uma decisão simples, merece esforço, discussões, estudos, avaliação de riscos, gravidades e magnitudes e mesmo assim ela não será perfeita. Portanto, de acordo com a situação real há uma avaliação daquilo que será melhor: mais ou menos.