Não é estranho culparmos a fragilidade das leis para tantos erros que vemos acontecer ou criticarmos a corrupção que existe na política. Isso é tão comum, ainda mais quando é mostrado pelos meios de comunicação e muitas vezes vemos que nada é feito. O povo manifesta, o povo se indigna. A corrupção é alarmante, não podemos ficar de braços cruzados, devemos protestar e manifestar nossa indignação. Mas afinal, será que as leis são muito frágeis e mal elaboradas ou no fundo nós não estamos dispostos a cumpri-la, justamente na esperança de alcançarmos sempre vantagens?
Rousseau costumava afirmar que a essência do homem é boa, ao contrário de Montesquieu, só que no entanto o meio em que ele atua acaba que por corrompê-lo, estragá-lo. Temos muitas vezes a vontade de criticar os atos de corrupção, sem levar em consideração que em nosso meio somos capazes comete-la com a maior naturalidade possível. A ambição e ganância com muita naturalidade pode nos culminar para atos desonestos, simplesmente por uma vontade imensa de levar vantagem, de obter lucro. E muitas vezes nem refletimos o que nós próprios fazemos e tão logo condenamos a outros.
Criticar é justo, é do direito, no entanto mais importante que a crítica é o exemplo que se dá. É pouco o efeito de uma crítica se o ato que se faz não corresponde a ela, seria como querer que os outros façam aquilo para que para ti é desnecessário. Não adianta falar da inércia da lei, das brechas que ele tem para disso se favorecer, se no fundo não há preocupação alguma em obedecê-las. Como a lei que diz para não dirigir se beber, pois embora todos saibam da real necessidade dela, é tão normal muitos a ignorarem, ou mesmo pagarem suborno por uma infração cometida no trânsito e pelos guardas que o recebem.
A nossa corrupção se estabelece não somente em grandes coisas, mas também em pequenos. O simples fato de mentirmos ou omitirmos, enganarmos no peso de alimentos ou nos preços, aplicarmos golpes, chantagearmos ou nos aproveitar da fraqueza de pessoas indefesas. O valor da honestidade perde pouco a pouco seu valor na sociedade, inclusive isso é tão normal que o anormal é a ocorrência dela. Também devemos lembrar que não adianta protestar contra a corrupção da política através de atos de vandalismos e violência, pois agiríamos da mesma forma covarde como age nossos representantes.
Aristóteles já dizia que a solução de um problema deve sempre iniciar a partir de nós mesmos, só assim poderíamos interferir no bem das pessoas ao nossa redor, como na nossa família. Após atingirmos nossa família teríamos a capacidade de atingir também aos nossos vizinhos e logo atingiremos uma vila. Se em todos as vilas essa prática fosse respeitado, logo um bairro todo seria melhor e com os demais bairros, logo a cidade seria melhor e teria a solução para o seu problema. Antes de criticarmos e condenarmos é imprescindível que ajamos como legítimos cidadãos, de forma ética e exemplar, do modo como realmente queremos que sejamos nossos representantes. Então, lembrem-se que uma boa cidade é formada antes de tudo de bons cidadãos.